O principal meio de cultivar, advindo da Revolução Verde e intensificado/expandido ao longo do século XX, tem como foco a produtividade em larga escala através da mecanização e uso abundante de fertilizantes químicos, agrotóxicos, pesticidas e sementes alteradas geneticamente. Apesar deste jeito ter levado a altos níveis de produção globa/l, esse sistema também trouxe consigo desequilíbrios socioambientais, como deterioração do solo, contaminação da água, perda de biodiversidade, emissões de gases do efeito estufa e o agravamento das desigualdade nas áreas rurais (E hlers, 1996).
Em contraste com esse modelo explorador e predatório, emerge o conceito de agricultura sustentável. Esta defende um método de produção de alimentos que respeite os limites ecológicos do planeta, assegure qualidade de vida aos agricultores e traga segurança alimentar para as gerações atuais e para as futuras (Patenia ni, 200 1). Esse viés é de tipo sistêmico, tentando unificar as partes ambiental, social e econômica, promovendo o bom uso dos recursos naturais e valorizando a diversidade cultural e produtiva do campo (Costa, 2010).
Ao longo da história, diversas vertentes de 'cultivo alternativo' e 'agricultura alternativa', como a agroecologia, a agricultura orgânica, biodinâmica e natural, surgiram como contraponto ao modelo agrícola químico-mecanizado. Essas práticas defendem métodos como rotação de culturas, aplicação de adubo verde e de compostos orgânicos, controle biológico de pragas e valorização do conhecimento local (Fukuoka, 1995). Apesar de suas metodologias diferentes, esses movimentos são unidos por um compromisso essencial com a conservação dos agroecossistemas.
Na prática inúmeras iniciativas bem-sucedida já foram criadas em vários lugares do Brasil. Por exemplo, no município de Rio das Ostras, localizado no estado do Rio de Janeiro, um programa de apoio à produção familiar de feijão sem o uso de defensivos químicos foi desenvolvido em conjuntos com a Embrapa e com a Secretaria Municipal de Agricultura. O programa tem demonstrado que é possível produzir alimentos de f orma limpa e que, ao mesmo tempo, gere benefícios econômicos e benefícios para o ambiente e para a saúde pública (Vieites, 2010).
Além disso, a agricultura sustentável ganha importância estratégica em um ambiente global conturbado pelas crises climáticas, esgotamento de recursos e insegurança alimentar. Uma pesquisa recente feita em propriedades rurais de Minas Gerais mostra práticas sustentáveis para o meio ambiente, como rotação de culturas, uso racional da água e valorização do conhecimento local, resultam em ganhos sociais, econômicos e ambientais, evidenciando a viabilidade do modelo sustentável frente aos desafios contemporâneos (Gabrielli et al., 2023).
Portanto, repensar o modelo de produção agrícola é urgente. O avanço da agricultura sustentável, que não danifica a natureza, exige a união de consumidores conscientes, agricultores capacitados, recursos governamentais e maior investimento em ciência e crescimento no campo. Somente com uma transformação estrutural da forma como produzimos nossos alimentos será possível construir um futuro verdadeiramente justo e ambientalmente equilibrado.
COSTA, A. A. V. M. R. da. Agricultura Sustentável I: Conceitos. Revista de Ciências Agrárias, v. 33, n. 1, p. 61–74, 2010.
EHLERS, Eduardo. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. São Paulo: Livros da Terra, 1996. 178 p
FUKUOKA, M. A Revolução de uma Palha. São Paulo: Via Óptima, 1995.
GABRIELLI, M. F. et al. Avaliação da sustentabilidade socioeconômica e ambiental em propriedades rurais de Minas Gerais. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 61, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/resr/a/SDd5Y3X3s5rSxCKj8THMtvb/. Acesso em: 20 maio 2025.
PATERNIANI, E. Agricultura Sustentável nos Trópicos. Estudos Avançados, v. 15, n. 43, p. 303–314, 2001.
VIEITES, R. G. Agricultura Sustentável: Uma Alternativa ao Modelo Convencional. Revista Geografar, v. 5, n. 2, p. 1–12, 2010.